Ouvimos constantemente as lamúrias de uma elite quanto ao facto de sermos ‘muitos’ à face da Terra e que isso provoca problemas de sustentabilidade. A sermos sinceros e directos, o maior problema de sustentabilidade está na mente de quem quer fazer chegar essa mensagem em troca de benefícios comerciais, financeiros e/ou menos revelados motivos. Enquanto 1 em cada 6 pessoas sofre de má nutrição, mais de 1/3 de alimentos nutritivos e de boa qualidade acabam no lixo como um qualquer dispensável desperdício.
O desperdício acontece a todos os níveis: no produtor, no transporte, no armazenamento, nos hipermercados e por fim nas nossas casas.
60% do peixe vai para o lixo.

Todos os anos, mais de 30 mil milhões de quilos de peixe, em todo o mundo, nem sequer chega à lota. Nas águas situadas a oeste da Irlanda e da Escócia, esse desperdício situa-se entre 30 a 90%. Um escândalo ainda maior, é o facto de a grande maioria dos barcos de pesca estarem em contacto permanente com as lotas e podem seguir assim em directo a cotação das várias espécies, limitando-se assim a ficar com as mais rentáveis e rejeitar os que o são menos.
Na lota, o peixe que não é vendido a um determinado valor mínimo, é transformado em farina animal (75%) ou pulverizado com um produto que o torna inconsumível e vai assim para o lixo (25%), isto quando muitos dos que lá trabalham ganham um salário miserável. A explicação é de que a distribuição gratuita desse peixe iria quebra os preços. De notar, que a farinha animal proveniente desse peixe destina-se à aquacultura, mas também serve para alimentar outros animais cujo o peixe não faz parte da sua alimentação natural, muitos dos quais desencadeiam reacções que tornam esses animais doentes.
23% da produção agrícola vai para o lixo.

Com as medidas de normalização impostas pela União Europeia, uma cenoura um pouco torta ou uma maçã com uma mancha são invendáveis. O próprio consumidor deixou-se pouco a pouco subjugar por esses critérios que se tornaram numa verdadeira obsessão. Interiorizamos de tal maneira o conceito de uma fruta ou legume esteticamente perfeito, que nos esquecemos que os nossos avós os produziam nas quintas e que estes tinham a forma que a natureza lhes dava. Nessa altura ainda tinha sabor autêntico, e não o sabor insípido actual.
O desperdício global na agricultura é de 6% na colheita, 8% nos supermercados e 13% da responsabilidade do consumidor final. A data limite de venda de um determinado produto faz com que sejam retirados das prateleiras de forma prematura. O medo criado no consumidor com as datas de validade leva a uma verdadeira “guerra” entre os hipermercados para propor produtos o mais fresco possível e nos fazer consumir mais.
Em muitos produtos essa data de validade é absurda. Um iogurte “resiste” perfeitamente 2 semanas para além desse prazo. Existem produtos em que essas datas não fazem qualquer sentido: as das massas ou do arroz, por exemplo. Foram descobertas nos túmulos do antigo Egipto lentilhas em perfeito estado de conservação que poderia ser consumidas hoje.
Em casa o desperdício também é grande. Uma coisa muito simples: num frigorífico a parte mais fria é a de baixo, aí é que deveriam ser colocadas as carnes, ora é sempre nesse local que se encontram as gavetas para os legumes, quando estes não necessitam de muito frio, frio esse que até pode alterar a sua qualidade.
A título de exemplo:
- No Equador, um em cada 7 habitantes trabalha na produção de bananas. Devido ao tamanho, forma ou cor, 15% da produção vai para o lixo ou para alimentar gado. Cada ano, são assim deitadas fora 146 000 toneladas de bananas, o equivalente ao peso de 15 Torres Eiffel.
- Nos Estados Unidos, reino do desperdício, o desperdício alimentar poderia alimentar duas vezes as mil milhões de pessoas que sofrem de desnutrição no mundo.
Fonte: France Nature Environnement
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